quinta-feira, 26 de julho de 2007

Um sentimento caipira

“Ole, ole, ole, ole, ole, ole, ola... Cada dia te quero mais. Sou Sangue de Barro, esse sentimento nunca morrerá”. A décima edição do Festival Caipiro Rock terminou com o público cantando esse coro de torcida, uma homenagem a banda Sangue de Barro de Caruaru-PE. Mais 18 bandas que se apresentaram no Caipiro Rock 2007, entre os dias 01 a 09 de julho. Nos 10 anos de história podemos dizer que esse foi o maior festival organizado pelo Sindicato do Rock e CECAC. Em quantidade de bandas, de atrações, atividades e de dias. Mas vale lembrar da qualidade do público e dos convidados. Diferente dos outros festivais de música independente o Caipiro Rock a cada ano reforça o que mais tem de específico: um sentimento caipira. Uma comunhão de música e amizade. De som e receptividade. Sentimento esse muito difícil de se explicar mas vivenciado por todos que vem a Serrana, livre da preocupação de ser a melhor banda independente de uma cena fictícia. Bandas que enfrentam a Anhangüera no sentido do interior para participar dessa festa junina, deixando para trás todo e qualquer resquício de estrelismo. Um final de semana com música, energia, amizade, quentão e bolo de fubá. Uma fogueira pra esquentar o inverno mentiroso da Alta Mogiana. Um abraço coletivo de moleques e meninas de boa fé pra esquentar o coração. Meninas sem uniformes. Moleques que se encontram por aqui. Despreocupados com rótulos e tribos, vivendo uma liberdade por meio da música, da manifestação e do pogo. Mãos dadas na quadrilha hard core, surpresas nos solos de guitarra ou nas canções vindas de tão longe. Homenagens em cima do palco e lágrimas nas despedidas. Cabelos espetados, crianças tocando viola, pernas de pau jogando bola, cantorias em volta da fogueira e bicicletas desajustadas. Dias em que expressões tais como: “do caralho”; “muito obrigado”; “vocês são demais”; “nunca esqueceremos esse dia”; entre tantas outras, substituem outras como: “cachê”; “contrato” etc. Ainda tivemos aqueles que duvidaram de tudo isso e preferiram ficar na terra cinza e fria. “O dinheiro que vocês ofereceram não paga nem as despesas”. Ou ainda: “A gente não pode tirar dinheiro do bolso pra tocar”. Afinal, quem perdeu com isso? Poderíamos esquecer o desprezo mas temos que trazer a tona apenas para entender o antagonismo dessas bandas, dessas mentalidades. Ta bão, ta bão! Esqueçamos isso tudo e voltemos ao sentimento real.

A gente fica aqui pensando o que podemos melhorar. O que está errado e coisa e tal. A gente conhece outros festivais de música e fica meio que nem bobos. Mas aqui o importante não é se o patrocínio é de grande porte. Nem se a banda da noite vai chamar um grande público. Também não importa se receberemos uma banda conhecidinha na cena indie. Vale mesmo ouvir de uma avó que foi ver sua netinha tocar bateria numa das bandas que se apresentaram dizer que o festival foi “muito lindinho”. Vale ver a molecada super preocupada com a água que acabou e com a fome das bandas de fora. Vale comer os doces e bolos que as mães fizeram exclusivamente para festa. Também vale mais ver os seguranças comendo pipoca, os mutirões de limpeza do nosso centro para receber melhor os convidados e a disputa no final do show pra ver quem leva mais integrantes de bandas pra dormir em sua casa. Um sentimento. É isso que vale. As melhores bandas fecham o parquinho junto com a gente.

Ricardo Brasileiro